De erro em erro. De um lado para o outro.

1 de março de 2012

A carta.

O copo está cheio. Está frio lá fora. Algo me aquece mas, se me perguntares o que é, não te sei responder. O sol começa a nascer, e eu preciso de cuspir para um papel aquilo que me mantém quente. A caneta, presa por entre os dedos, desliza pela folha como se tivesse vontade própria. Desenha memórias. Pinta emoções. Assinala o problema. Descreve a solução. Não percebo. Não faz sentido.

Lembram-se de quando a vida era fácil? Quando nos encostávamos à parede e esperávamos que alguém nos escolhesse para uma equipa. Quando os jogos ainda se faziam na rua. Quando procurávamos o melhor sítio para nos escondermos, porque se nos encontrassem perderíamos o jogo. Quando não passávamos dos 120 centímetros e éramos felizes por isso. Quando escrevíamos as mais sinceras cartas de amor, porque éramos inocentes peças deste enorme tabuleiro. Quando, mesmo sem obtermos resposta do(a) nosso(a) amado(a), continuávamos felizes porque amanhã talvez ele(a) nos escolhesse para a sua equipa. Quando tapávamos os olhos com vendas e, ainda assim, caminhávamos sem ter medo do desconhecido.

Ah, tenho saudades desses tempos. E a caneta escreve a saudade do que agora não passa de uma memória frágil. Eterniza o momento, porque sabia bem chegar a casa, ter um beijo da mãe e um sorriso do pai, ver os desenhos animados e ficar ansioso(a) pelo amanhã. A caneta escreve, e os meus olhos enchem-se de lágrimas.

A caneta parou. A folha foi dobrada. O envelope foi fechado e endereçado ao passado, pedindo para que tudo voltasse. Não obtive resposta, e nada leva esta saudade.

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