De erro em erro. De um lado para o outro.

8 de março de 2012

Chuva.

O sol começava a nascer, e por entre as cortinas a luz ia inundando o quarto, acordando-a. Abriu os olhos, com o esforço característico da manhã. Desde logo percebeu que, lá fora, devia estar um dia lindo à sua espera. Levantou-se de um salto. Lavou a cara e os dentes, vestiu as primeiras peças de roupa que conseguiu encontrar e saiu, apressada, sem ter qualquer compromisso.

Nas ruas via mulheres com flores. Ouvia os risos sinceros das crianças que brincavam nos passeios. Tudo parecia estar em perfeita sintonia. Os pássaros cantavam numa melodia concertada, o sol iluminava o dia e as pessoas pareciam estar felizes. Aquele era um dia bom. Há semanas que não se sentia assim. Desde que ele partira que o mundo parecia estar solidário com a tristeza dela. Mas hoje era um dia bom.

A embriaguez de um desconhecido tinha levado o amor da sua vida. Isso deixava-a revoltada, mas não havia nada que pudesse fazer. Quis Deus que fosse assim (esse Deus que chama para si os inocentes repletos de vontade de viver e que não permite a entrada àqueles que, consumidos pelo vicio que mantêm, todos os dias colocam a vida em xeque). Não era justo, mas era a realidade que tinha de saber gerir.

Enquanto caminhava não conseguia parar de sorrir. Percebeu que a vida continua, mesmo quando perdemos uma parte importante de nós. Percebeu que temos de nos levantar depois da queda, e que isso não constitui nenhum desrespeito para quem partiu. Percebeu que o mundo, afinal, não tinha estado solidário com ela nas últimas semanas. O sol tinha nascido todos os dias com a mesma intensidade, os pássaros tinham cantado a mesma melodia concertada, as pessoas tinham sido felizes. Mas ela tinha estado mergulhada nos tons cinza da tristeza, por isso, para ela, todos os dias tinha chovido. Por qualquer motivo, hoje, ela tinha voltado à superfície. E era tão bom poder voltar ao mundo a cores. Um mundo sem ele, mas onde também podia ser feliz. Não iria esquecê-lo, a saudade não deixaria que isso acontecesse mas, a partir de hoje, iria também lembrar-se de que tinha uma vida para agarrar.

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