De erro em erro. De um lado para o outro.

15 de março de 2012

Melodia.

O som abafado daquele velho gira discos era a primeira recordação de que tinha memória. E era curioso como essa recordação se tinha tornado determinante na sua vida. Determinante porque tinha semeado o seu gosto pela música. Um gosto que cedo se tornou uma dependência. Uma dependência da qual não abdicava, porque só embrenhado nela se sentia bem.

A música era, para ele, como um balão de oxigénio quando o ar se tornava denso e irrespirável. Como um porto de abrigo que acalma o mar. Um colete salva vidas quando o naufrágio é inevitável. A música era a sua melhor amiga, a sua companhia, e compreendia-o como nenhuma pessoa conseguia. E era linda, toda ela. Preenchia como ninguém uma sala vazia, e silenciava as vozes de todos aqueles que ousavam questioná-la.

Era por tudo aquilo que aquela seria, para sempre, a primeira e mais importante recordação de que tinha memória. O som abafado que ecoava daquele gira discos era, para ele, como uma melodia sinfónica, composta, orquestrada e dirigida pelo tempo. O mesmo tempo que tinha dado corda á infância e exaltado a saudade. O mesmo tempo que tinha levado ao naufrágio a adolescência e a juventude mas que, ainda assim, tinha deixado em terra firme as recordações e memórias envoltas em nostalgia. O mesmo tempo que agora não lhe perdoava as rugas, mas que mantinha acesa a chama daquela paixão pela música.

Também ele sabe - o tempo - que por mais anos que passem, a música ficará sempre no som abafado daquele gira discos. Será sempre companhia. Será sempre refúgio. Será sempre lembrança.


Para Ouvir: Jamie Cullum - Please Don't Stop The Music           Para Ver: The Music Never Stopped (2011)

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