De erro em erro. De um lado para o outro.

10 de março de 2012

Para sempre.

Era uma pessoa feliz. Todos os dias era uma pessoa feliz porque podia encontrá-la. E essa possibilidade, mesmo que remota, deixava-o nas nuvens. Não falavam desde aquele maldito dia em que soube que os pais tinham partido e foi obrigado, por ser menor, a ir viver com os tios. Foi o pior dia da sua vida. Não apenas porque os pais tinham partido, mas porque teve de deixá-la para trás.

Ela era a sua melhor amiga. Não havia nada no universo que pudesse igualar-se a ela. E ele sabia-o. Por isso, aos 16 anos decidiu ir procura-la. Encontrou-a, mas as palavras esgotaram-se e o receio apoderou-se dele. Ela, crescida e perdida nos desafios do seu dia a dia, deixou que o tempo e a distância o empurrassem para bem fundo, onde a infância não passava de uma recordação ténue. 

E agora lá estava ela, a sua melhor amiga, linda, enquanto a voz e a coragem o atraiçoavam. Decidiu ficar ali, onde ela estava, mesmo sabendo que, para ela, seria apenas mais uma pessoa. Os anos foram passando, eles foram crescendo, os tempos mudaram e as pessoas também, mas aquilo que ele sentia por ela manteve-se sempre, para sempre, inalterável. Todos os dias se levantava de um salto, entusiasmado com a ideia de poder, eventualmente, encontrá-la na rua, a ler um livro ou simplesmente a passear.

O que ele sentia era um amor incondicional e sem segundas intenções. Para ele bastava a possibilidade de a ver. Não precisava tocar-lhe ou falar com ela. Ele sabia que para muitos a sua rotina se dava pelo nome de obsessão, mas para ele aquela era só a forma que ele tinha de não sentir a falta dela. Para ele aquela era só a forma que ele tinha de acabar com as saudades. Para ele aquela era a forma possível de a ter na sua vida, sem ter coisa nenhuma.

Um dia ele contou-lhe. Ela não percebeu. Ele explicou. Ela continuou sem perceber. Talvez um dia, pensou:
- Talvez um dia ela perceba a enorme diferença entre acordar de manhã e pensar "Talvez hoje a veja por aí", e acordar com a certeza de que, para além de não haver qualquer probabilidade a meu favor, os dias serão sempre, para sempre, iguais e sem interesse.

Para Ouvir: The Mostar Diving Club - Worlds Apart                    Para Ver: Waiting For Forever (2010)

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