De erro em erro. De um lado para o outro.

22 de março de 2012

Partilha.

Hoje, ao contrário do que é normal, não vou escrever sobre algo abstrato. Hoje, porque os meus amigos são parte da minha familia e porque ficar de braços cruzados não é solução, vou contar-vos a história de quem perdeu tudo, mas quer tentar ganhar alguma coisa. Esta é uma história dura, e é por essa razão que gostava de pedir-vos que a partilhassem. No Facebook ou com os vossos amigos, como quiserem. Mas partilhem, porque amanhã não sabemos o que a vida nos reserva, e isso, por si só, já é suficientemente assustador.

Vou falar-vos da Patricia. A Patrícia tem 32 anos e está desempregada. Antes de passar a esta condição, mantinha 2 empregos - um num Restaurante em Aveiro, e outro num bar. A verdade é que foi despedida e despediu-se. Foi despedida do restaurante devido ao momento que o país atravessa e despediu-se do bar porque, lamentavelmente, era assediada e chantageada pelo seu patrão. A Patricia não tem pais, amigos ou namorado. Os pais, apesar de vivos, abriram-lhe a porta de saída de casa e puseram-lhe as malas à porta, e portanto nunca poderá contar com eles. Os amigos, com o pasar dos anos, foram aparecendo por conveniência e desaparecendo por falta de carácter. Foi acolhida por uma rapariga romena cuja vida, no fundo, se resume em duas palavras: prostituição e heroína.

Apesar das adversidades da vida, a Patrícia nunca abdicou dos seus valores. Disse não à sua única fonte de rendimento no momento em que o patrão decidiu fazer chantagem sexual com ela. Nunca quis sentir os efeitos de uma dose de heroína ou de outra droga qualquer, apesar de viver numa casa onde o consumo de drogas fazem parte da rotina diária daquela com quem partilha casa. Nunca roubou e afirma que essa será a última coisa que fará na vida. A Patrícia devia ser admirada porque elevou, durante toda a sua vida, os valores acima de qualquer interesse ou necessidade.

Ontem a Patrícia não tinha fome e no bolso trazia sessenta cêntimos. Tinha medo de voltar a casa porque tinha assistido a mais um dos consumos da colega e achava que ela pudesse estar morta. Ontem a Patrícia era o rosto de uma pessoa completamente arrasada pela vida. Uma pessoa que tinha procurado ajuda em várias instituições de solidariedade social, como são o caso da Caritas e da Cruz Vermelha, mas que tinha sido rejeitada por todas elas, por não corresponder ao perfil esperado. Uma pessoa abalroada pelas circunstâncias e rendida ao desespero. Uma pessoa desarmada. Uma pessoa acabada.

Ontem a Patrícia tentava vender um pano de Linho para ser ouvida, para contar a sua história. Quem a ouviu foi obrigado a mergulhar num mundo que não conhecia. Quem a ouviu foi obrigado a abrir os olhos para uma nova geração de pessoas que, apesar dos seus discursos coerentes e argumentações brilhantes, são rejeitadas, todos os dias, pelo mercado de trabalho e pelas instituições que de solidariedade social têm muito pouco. Para que as Patrícias deste país possam ser ouvidas e ajudadas, partilha este texto. Para que a Patrícia deste texto possa ser ajudada, propõe as tuas soluções aqui no blog.

A todos os que neste momento estão a ler esta frase e pensam partilhar este post, muito obrigada.

Para Ouvir: David Fonseca - Someone That Cannot Love                  Para Ver: Seven Pounds (2008)

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