De erro em erro. De um lado para o outro.

14 de abril de 2012

Negociação: Depressão

Hoje é um dia mau. A negociação não está a levar-me a lado nenhum, e não tem melhorado em nada o meu estado. Todos os dias me sinto numa luta constante contra o meu próprio corpo. Mas não posso dar-me ao luxo de desistir, por isso todos os dias negoceio tempo. Vendo a alma por mais um dia. Mas a verdade é que o tempo passa, passa a uma velocidade vertiginosa, e tudo o que consigo é ficar perdida na sensação constante de urgência. Depressão.

Deixo cair o corpo podre sobre a cama e deixo-me embalar pelos soluços abafados em lágrimas. Não choro a morte, porque essa é aquilo que de mais certo temos, mas sou obrigada a chorar pela vida que me foi roubada, e pela perda. Mas depois percebo que, apesar de tudo, ainda estou aqui. E é esta dor que me faz continuar aqui, porque é para amenizá-la que luto todos os dias. É esta dor que me faz sobreviver e continuar.  A mesma dor que me tira a respiração todos os dias, quando imagino o que será de mim. A mesma dor que me deixa caída, de joelhos, porque é tão forte e tão invisível que me empurra para o fundo. A mesma dor que desaparece, misteriosa e convincentemente, nos dias bons, mas que volta inesperadamente e me deixa de rastos e sem fôlego, mais uma vez.

O Miguel diz que a depressão demora pouco tempo e que logo a seguir vem a aceitação. A fase em que vou poder finalmente descansar, porque a caminhada chegou ao fim e não há mais nada que eu possa fazer. Queria poder beber da genuinidade dessa tranquilidade agora. A tranquilidade que sinto agora é composta por dois fatores: o Miguel e o seu sorriso.

Desde aquele café de que vos falei, temo-nos encontrado mais vezes. Ele provoca em mim uma amnésia temporária, e prescreve nos momentos uma anestesia à dor, e em troca eu vou ficando mais um dia. Esta é a negociação secreta e silenciosa que vamos fazendo todos os dias. Para mim é melhor que qualquer outra, porque pelo menos não caminho sozinha nesta estrada sinuosa e medonha. E quando a aceitação vier e a morte me seduzir, não é do silêncio que tenho medo, mas sim da solidão.

(Continua...)

Para Ouvir: Fun. - We Are Young                                    Para Ver: Griffin & Phoenix (2006)

Sem comentários:

Enviar um comentário