De erro em erro. De um lado para o outro.

22 de maio de 2012

(In)Diferença.

"Ontem" todos gostavam de mim. Hoje os olhares caem sobre mim como balas sedentas do meu sangue. Eu não sei porquê. Há coisas que não se explicam. Mas eu gostava de desvendar o mistério por de trás dos olhares reprovadores. Talvez seja por amar alguém de quem eles não gostam. Mas não há nada para não gostar.

Estava com a cabeça noutra galáxia quando, de repente, choquei contra algo. A visão, desfocada pelo embate, desenhava uma silhueta quase divina, um sorriso aberto, um cabelo desalinhado e uns olhos brilhantes. A primeira troca de olhares foi fatal. Foi aí que tudo mudou, dentro e fora de mim. Seguiram-se as desculpas, envoltas em embaraço e sorrisos envergonhados. Outra troca de olhares. Outro suspiro deslumbrado. Algo tinha mudado. A respiração era ofegante, as borboletas teimavam em voar na minha barriga, o pulsar do meu sangue podia sentir-se nas minhas têmporas. O (meu) mundo estava diferente. Para mim e comigo.

Vieram os cafés. As tardes passadas nas esplanadas. Os passeios. As juras de amor eterno. O receio. O risco. A adrenalina. As demonstrações de carinho. O toque suave das suas mãos. A roupa despida. As camas desfeitas. O silêncio de duas almas em perfeita sintonia. O bater sincronizado de dois corações.

Passaram anos desde aquela primeira troca de olhares, e nem por isso o sentimento esmoreceu. Ontem vi um filme em que o personagem principal referia, noutro contexto, e é provável que com outro objeto, que o amor "não é novo nem velho, feio ou bonito. Não tem cara, não tem forma". O amor é o que quisermos que ele seja, com quem quisermos que ele seja.

Depois disto, da história, da emoção e da paixão, é importante saberes que me chamo António e que a pessoa que amo se chama Francisco?

Para Ouvir: Lady Gaga - Born This Way                                      Para Ver: Milk (2008)

2 comentários:

  1. Bem...esta agora "tramou me"....Confesso que estava a ler o texto e a pensar "mais um texto sobre o que acontece naturalmente entre duas pessoas..." mas claro, que associei a a sexos opostos....e mil e uma coisas vieram me á cabeça, revendo me em várias passagens...Eis que no fim!!!

    Parabéns!! De alguma forma é uma lição para todos nós ou para quase todos nós, que nos esquecemos que há várias maneiras de amar, várias formas de amor e que todas elas, nas suas mais variadissimas formas, são o verdadeiro sentido do amor!

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    1. Maria João, muito obrigado pelo teu comentário. Este texto foi inspirado numa reportagem que uma vez vi, e onde o final foi tão inesperado como o que hoje leste. Na altura, senti-me pequenina por não ter assumido o amor entre pessoas do mesmo sexo como uma opção. Mas ela existe. Ninguém deve apontar o dedo a quem escolhe a felicidade.

      Mais uma vez, muito obrigado pelo teu comentário :)

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