De erro em erro. De um lado para o outro.

19 de outubro de 2012

Agradece (sempre).


Vou contar-vos a minha história. O meu nome é Ana. Tenho 23 anos, feitos este ano, por alturas do verão. Cresci numa aldeia (talvez lugar seja a palavra mais correcta) pequena, onde tudo se conta e sabe. A proximidade é tanta que a privacidade é quase nula. Sou a primeira de dois filhos, e gosto muito que assim seja. Sou uma pessoa simples, livre de vaidades e isenta de arrogância. Sou eu.

Enquanto crescia, os meus pais e avós ensinaram-me a respeitar sempre os mais velhos e a proteger sempre os mais novos. Ensinaram-me a cumprimentar as pessoas quando me cruzo com elas na rua e, hoje em dia, dou por mim a dizer “boa tarde” a quem não conheço. Ensinaram-me a diferença entre o bem e o mal. Tentaram tornar-me numa pessoa tolerante e compreensiva. Repetiram vezes sem conta o famoso ditado “Junta-te aos bons e serás melhor que eles. Junta-te aos maus e serás pior que eles”, e nunca me deixaram esquecer que independentemente daquilo que os outros façam ou digam, importa manter-me fiel a mim mesma. Ensinaram-me a acreditar nas pessoas, mesmo quando no fundo há qualquer coisa que nos diz que não devemos fazê-lo. Ensinaram-me a ser sincera, a dizer sempre o que pensava e sentia. Assim fiz e faço, mas confesso que não tantas vezes como seria desejável. Gosto de pensar que tenho um saco que enche, e vai enchendo à medida que vou ouvindo o que não gosto, ou o que não me parece justo, sem proferir uma única palavra de desagrado. Até que o saco encha e transborde.

Ensinaram-me a não julgar as pessoas pela roupa que vestem ou pelas coisas que têm, mas sim por aquilo que são verdadeiramente. Ensinaram-me também a desconfiar dos desconhecidos e a confiar nos que já conheço. Disseram-me que teria muitos amigos, mas que provavelmente iria conseguir contar pelos dedos das mãos aqueles que valeriam realmente a pena. Palavras sábias. Ensinaram-me a preocupar-me com os outros. Eu levei este ensinamento ao extremo. Gosto de gostar das pessoas, mas tenho alguma dificuldade em dizê-lo. No entanto, é inegável que me preocupo com elas, mesmo quando elas não fazem ideia. Sofro, como se na pele deles estivesse. Vê-los ou ouvi-los aflitos deixa-me pequena e imóvel. Os meus pais e avós ensinaram-me muita coisa, e é a eles que devo tudo o que sou hoje. Mas há coisas que só o tempo foi capaz de me ensinar.

Coisas como a desilusão. A hipocrisia. A fraqueza de espirito e a falta de carácter. A ausência de valores. O desdém e a má-fé. A cobardia. A revolta. A omissão e a mentira.

Mas mesmo assim, depois de todas as vezes em que fui obrigada a abrir os olhos por causa do que o tempo me tentava ensinar, mantive a minha memória curta, como a de um peixe, e acabei sempre por perdoar (mesmo que nem todos saibam) todos aqueles que me fizeram mal.
Queria pedir desculpa aos meus pais e avós por tudo o que me ensinaram e eu não fui capaz de aprender na altura. Queria agradecer ao tempo por se encarregar disso. Mas pensando bem, o tempo é apenas o mensageiro de todos aqueles que me desiludiram. Por isso, e porque os meus pais e avós também me ensinaram a fazê-lo sempre, MUITO OBRIGADA aos cobardes, hipócritas, omissos e submissos da mentira, por tudo o que me têm ensinado.

No dia em que os meus olhos se abrirem, as vossas caras não passarão de meros rostos aleatórios, como aqueles com quem me cruzo todos os dias.

Para Ouvir: Lily Allen - Fuck You                               Para Ver: Madagascar 3 (2012)

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