De erro em erro. De um lado para o outro.

22 de novembro de 2012

A relação.


A minha consciência não me deixa descansar. Cospe verdades, em gritos repletos de culpa. Porque não me deixa fechar os olhos e dormir? Massacra-me com insinuações e afirmações que me obrigam a dar voltas e voltas na cama, em mais uma insónia igual a tantas outras. “Cala-te, por favor, cala-te“, penso, mas sou imediatamente atropelada por mais uma acusação (“a culpa é tua”). Mas é mentira.

Sou habitat de uma relação. A relação entre o sentimento e a palavra. O sentimento, tímido e recatado, não consegue viver sem a palavra, incoerente e cheia de si. Ambos sabem que são complemento um do outro, mas ambos têm imensa dificuldade em lidar com o que entre eles existe. O que o sentimento quer, a palavra não diz. E quando a palavra tenta, o sentimento deixa-se ficar para trás. A palavra, de orgulho ferido, bate o pé, e o sentimento, magoado, esconde-se por detrás do coração. A palavra resmunga e acaba por desabafar com a sua melhor amiga: a razão.

Aí começa a batalha, já lendária, entre o coração e a razão. O campo de batalha é, invariavelmente, a cabeça. Ambos os lados se bombardeiam com insultos e acusações, e nas trincheiras, vão-se avaliando as consequências e preparando os próximos ataques. É um braço de ferro complexo. E quando a razão começa a ceder ao coração, a palavra toma as rédeas e assume o controlo, com contradições a que chama de verdades, encosta o coração à parede e deixa o sentimento entre a mágoa e a dúvida. 

Abandonam-se os dois. Remetem-se, ambos, ao silêncio (e nisso estão de acordo). O sentimento não consegue compreender porque a palavra insiste em desmenti-lo. Ele quer expor-se, mostrar-se, resolver a situação. Não seria tudo mais simples se estivessem todos de acordo? A razão, o coração, o sentimento e a palavra. A palavra devia ser a expressão corporal do sentimento. Deviam ser alma e espelho. Inseparáveis, coerentes, concordantes. 

E naquele campo de batalha, agora, reina a culpa do que ficou por dizer. Reproduzem-se involuntariamente as acusações. Eternizam-se, na mágoa, os insultos. Tentam esquecer-se, nas voltas que o corpo dá em torno dele mesmo, os momentos passados. Mas não é fácil.



[Não é fácil quando dizes o que não queres, só porque estás magoado com o que quer que seja. Mas acontece. Perdes a razão, e o teu coração fica apertado. A tua consciência torna-se a tua pior inimiga, em conjunto com o teu orgulho.
Gostava de poder dizer-te que lamento que assim seja. E mesmo que a solução não passe por aqui, deixa-me apenas garantir que lês isto: Desculpa.]


Para Ouvir: Dave Matthews Band - If Only                                          Para Ver:The Words (2012)

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