Hoje vou escrever-te. Deves estar
a questionar-te porquê. Hoje não é um dia especial. Não há nada para celebrar.
Nada para relembrar. Mas, se é o que pensas, estás enganado. Hoje celebro a tua
persistência.
Já por várias vezes me disseste
que tens saudades. Das minhas palavras. Dos meus devaneios. Das minhas prosas
de desabafos. Pois aqui estou eu. Diz-me o que queres que te escreva. Uma coisa
triste? Uma coisa alegre? Ah, já sei…
Vou contar-te uma história. Lembras-te
daquele dia em que me perguntaste qual era a coisa na vida que eu fazia mesmo
bem? Demorei algum tempo a responder e agora percebo que a resposta, apesar de
boa, podia ter sido melhor.
Perguntar a alguém aquilo em que
ele acha que é realmente bom pode ser, por vezes, tricky. Não porque nem todos sabemos aquilo em que somos bons
realmente, mas porque a maior parte das vezes o exercício de nos auto
elogiarmos é muito difícil. E depois porque nem sempre a pergunta é feita na
altura certa. Aquilo em que acho que sou realmente boa hoje não é, provavelmente,
aquilo que achava há 15 anos atrás, ou há 10.
Aos 10 anos achava que era mesmo
boa a cantar. O tempo e alguns ouvidos corajosos encarregaram-se de me mostrar
que estava errada. E tu sabes como isso hoje me deixa triste…a dura realidade
de não saber cantar. Aos 15 achava que era mesmo boa a nadar. E sou. É algo que
faço bem, mas também é algo que fiz durante tanto tempo que seria um insulto à
modalidade se assim não fosse.
Aos 24, quando me perguntaste,
disse que era boa a ler pessoas. É verdade…faço-o muito bem. Às vezes dou por
mim a pensar quão fácil é ler alguém. A linguagem corporal, as expressões
faciais, as pequenas coisas…em que provavelmente poucos reparam.
Hoje, aos 25, sei exatamente
aquilo em que sou realmente boa. E, na verdade, sempre fui. Sou realmente boa a
contar histórias. E é algo que adoro fazer. Até nas pequenas coisas do dia-a-dia.
E talvez este meu talento não seja assim tão diferente da minha resposta aos 10
anos. A escolha de palavras é que talvez não tenha sido a mais correta. Quando
eu achava que era mesmo boa a cantar, o que eu gostava mesmo de fazer era
entreter as pessoas. Proporcionar-lhes bons momentos. Fazê-las rir, se fosse necessário.
Quando conto histórias é
exatamente isso que estou a fazer: a entreter as pessoas. E faço-o bem, não
tenho qualquer dúvida.
Todos os regressos são nostálgicos,
mas este soube-me particularmente bem. Obrigado pela tua persistência. Esta é
uma história que talvez já te devesse ter contado há mais tempo.
Para Ouvir: Bom Feeling - Sara Tavares Para Ver: Le fabuleux destind'Amélie Poulain
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