De erro em erro. De um lado para o outro.

9 de março de 2012

Vício.

Sentia-se tonto. Mas era uma sensação boa. Pelo menos enquanto durava. Já não se lembrava de quando aquele vício tinha começado. Talvez tivesse pouco mais de 15 anos. Experimentou, por curiosidade, mas o que sentiu foi tão forte que não hesitou no momento de repetir. Mas a curiosidade tornou-se vício, e agora lá estava ele, naquele canto escuro e frio, a consumir mais uma dose.

Já não tinha amigos para além daqueles que consumiam tanto ou mais que ele. Apesar de se sentir bem quando consumia, ele sabia que a heroína era o seu grande amor e a sua pior inimiga. Por causa dela tinha afastado para bem longe todos aqueles que, de uma forma ou de outra, um dia se tinham preocupado com ele. Mas ela era irresistível. Mais bela que qualquer mulher, mais sedutora e apetecível que qualquer outra coisa. Por ela tinha cometido as maiores loucuras. Roubou dinheiro aos pais, vendou coisas que, outrora, tinham sido importantes para ele, roubou nas ruas e foi dormir várias vezes à esquadra. Mas sempre que se sentia sozinho, deprimido e ressacado, ela estava lá, de mão estendida e olhos esbugalhados, pedindo-lhe que voltasse, que se perdesse um pouco mais nela.

Ele assentia, sempre. Essa era a razão pela qual estava ali, a curtir mais uma trip. Deixou-se cair para trás. Qualquer coisa o puxava e era mais forte que ele. Fechou os olhos e sorriu. O chão estava gelado, ou seria ele? Não conseguia perceber. Mas sentia-se como nunca se tivera sentido até então. Tentou abrir os olhos mas não foi capaz. A sua respiração estava cada vez mais lenta e ele sabia-o. Mas era melhor sensação de sempre e, mesmo que quisesse, não podia fazer nada para mudar o rumo dos acontecimentos.

Foi encontrado morto, pela polícia, naquele canto escuro e frio, dois dias depois da overdose. Tinha 20 anos e uma vida miserável pela frente. No seu funeral estiveram presentes os seus pais e o seu grande amor, espalhada por cada milímetro do seu organismo, Esse amor cego e louco, que acabou por colocá-lo a sete palmos do chão.

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