De erro em erro. De um lado para o outro.

7 de março de 2012

No esquecimento.

Remexia no passado. Procurava qualquer coisa. Talvez já não se lembrasse bem o quê, mas isso não era importante porque, no fundo, só queria encontrar alguma coisa. Mas tinha de se esforçar tanto. Tinha de procurar tanto. Remexer e remexer.

A noite caía e começava a tornar-se complicada aquela busca. Mas era uma pessoa prevenida. Consigo trazia sempre uma lanterna inundada de esperança. Usou-a naquela noite, mas mais uma vez não ajudou. Quem passava por ali, olhava-a com um ar desconfiado, mas todos a conheciam. Todos os dias ela estava ali, a remexer no passado. Todos sabiam, mas ninguém arregaçava as mangas e ajudava.

Ela não se importava. Já estava habituada à indiferença daqueles que, na correria do seu dia a dia, não dispensavam mais do que um olhar incomodado. Como quem diz: "Lamento, é realmente uma pena". Ela não se importava. Remexia, voltava a remexer. A fome era um enorme vazio crescente no seu estômago. Ela não podia parar. Não queria morrer. Mas, tal como o seu passado, aquele contentor não tinha mais do que os restos que os outros tinham consumido. Por isso remexia. Remexia incansavelmente. Qualquer coisa serviria. Qualquer coisa seria perfeita.

Era uma senhora já com alguma idade. O alzheimer era a sua realidade. Não conseguia lembrar-se de quem era. Mas tinha fome e a rua era a sua casa. Isso ela sabia. Isso ela não esquecia.

Para ouvir: Gary Jules - Mad World

Sem comentários:

Enviar um comentário