De erro em erro. De um lado para o outro.

30 de julho de 2012

Olá Tu.

Olá Tu,

Trato-te por "tu" porque não sei o teu nome. Devia ter sido menos descuidada. O mundo merecia saber o nome de uma pessoa tão marcante. Ou talvez tenha sido melhor assim. Talvez as pessoas não estejam interessadas em saber quem és ou o que fazes. Talvez o mundo não esteja interessado em ti. Mas eu estou.

Não ficaria surpreendida se já não te lembrasses de mim. Mas eu espero que lembres. Por tua causa o meu corpo está imundo de vergonha. Os meus olhos presos ao chão. Na minha garganta formou-se um nó gigante. Um nó cego. Sinto o teu cheiro em todo o lado. Cresce-me a água na boca. Apetece-me cuspir, mas isso não resolve o meu problema. O teu sabor continua em mim.

Gostava muito que te lembrasses de mim. Que ouvisses o meu desespero todas as noites antes de adormeceres. Que sentisses em duplo a vergonha que depositaste em mim. Gostava que criasses uma aversão a ti próprio. Uma aversão tão grande como aquela que eu sinto por ti. Total e completa. 

E quando esse dia chegar, espero que tenhas a coragem de replicar no teu corpo actos tão repugnantes como aqueles que ousaste obrigar-me a viver. Espero que o som das minhas suplicas naquele dia te sufoquem. Espero que as minhas lágrimas te ceguem e que a imagem do meu corpo oprimido te faça viajar para a pior das loucuras.

Com desprezo,

Para Ouvir: Toranja: Nada                                           Para Ver: The Lovely Bones (2009)

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