De erro em erro. De um lado para o outro.

30 de março de 2012

Bolos, Creme & Pessoas

Os atos ficam para quem os pratica, pensava. Mas havia coisas que não conseguia perceber. Não percebia como as pessoas podiam deixar que a indiferença as congelasse por dentro. Não percebia o porquê das pessoas se adaptarem a essa indiferença. 

Costumava olhar para as pessoas como um bolo com recheio. Ela gostava de bolos com recheio, mas tinha um problema. Ultimamente as pastelarias andavam a reduzir na quantidade e na qualidade dos recheios. Agora, sempre que comia um bolo com recheio, mal conseguia distingui-lo de um bolo seco. Nada de creme a sair por fora ou a ficar colado ao guardanapo. Nada. Só o açúcar que parecia cair em doses industriais em cima daqueles bolos.

As pessoas também. Ultimamente só se cruzava com pessoas que, também elas, pareciam estar completamente secas. Estar com elas causava-lhe dores de barriga. E o vazio que elas expiravam deixava-a assustada. Eram pessoas contaminadas pela bactéria do egoísmo. Pessoas que, mesmo que quisessem, não conseguiam levantar os olhos do próprio umbigo. Pessoas demasiado expostas a elas próprias e que, por esse mesmo motivo, acabaram por estragar o pouco recheio que ainda tinham. Pessoas secas pelo narcisismo. Pessoas estragadas, tal como aquele último bolo que tinha comido, e que lhe tinha garantido uma viagem ao hospital.

Ia escrevendo enquanto pensava naquilo. Havia um espelho à sua frente. Largou a caneta e encarou-o. Sentiu uma dor de barriga forte. Lá estava ela, vazia e sem recheio. 


Para Ouvir: Pearl Jam - Black                                     Para Ver: The Hunger Games (2012)

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